Passo horas me revirando,
convidando o sono,
ouvindo a trilha sonora
da história que eu poderia
começar a criar
para conseguir
enfim me adormecer...
É um pouco a hora da tristeza,
resultado talvez do constato,
que mais um dia se passa
e no entanto,
ainda não sabemos
o quanto teremos que esperar
para que esse momento estranho
acabe.
O passar dos dias
não deixa também de me lembrar
que a vida também anda passando
e que o impasse é inerente
a isso mesmo no agora.
Minha lágrima parece quente,
como se tivesse ficado por um período particular no olho,
deve ser pela angústia dilatada
no tempo que temos de sobra.
Não tenho chorado muito,
ou,
não tenho chorado o tanto
que o estado de espírito atual
anseia.
Antes do fim do mundo
eu chorei por "mais de ano",
todo dia,
às vezes muito.
Acho que só parei de chorar no carnaval,
ou talvez um pouco antes.
Devo ter gastado toda lágrima
sem por tanto
ter deixado de sentir
tudo aquilo que me fazia
desaguar ainda a pouco.
Pode ser a concretude das dores
a ladra discreta do choro...
Tenho me comunicado mais
com as pessoas distantes
do que me parece recorrente...
E no entanto,
a distância nunca me pareceu
tão real..
E isso me faz entender
do porquê
de evitar o contato constante
mesmo de forma inconsciente.
Defesa.
Necessidade de não tornar fatídica
a distância.
A dificuldade eterna
com despedidas...
A falta.
A saudade.
Mas a saudade pode ser matada,
pouco ou muito.
Mas a falta é um vazio que ficou pra trás,
que não pode ser preenchido.
É o que perdi
por não estar presente.
Acho que eu tenho é chorado seco,
deve ser isso!
E acho que a cabeça anda
cheia demais
pra se deixar repousar
facilmente no sono.
Acordar não tem sido fácil,
nada fácil!
Começar um novo dia
que será provavelmente
um tanto quanto
igual a ontem.
Interromper o mundo dos sonhos
onde,
vira e mexe
vivo coisas mais interessantes
do que acordada....
Sair do estado
de ausência de dor no corpo
e de julgamento da outra dor.
Esperar o sol
que só vem esquentar de fato
mais tarde.
Desejar sem grandes expectativas
um bom dia.
Mas as coisas já perderam muito
da graça
que eu inventei
que tinham,
pra me convencer
em manter uma certa calma
aproveitando a idéia
de qualquer alegria.
Por trás dos ruídos sonoros
próprios ao lugar,
tem um silêncio profundo...
Não sei bem se ele vem de mim
ou do mundo.
Observo toda cor do além íris
que insiste em enfeitar
a flor
que nasce na rachadura do concreto.
Penso no que a planta resistiu
pra aparecer por ali.
E não consigo dar nome a sua cor.
Não consigo captar
se a imagem me traz
esperança, desespero ou alívio.
Provavelmente tudo junto
e necessariamente
em desordem.
Bom dia!
credits
from ATÉ,
track released March 7, 2020
Liz Braga - voz e texto
Pedro Ratton - percussão
Juninho Ibituruna - percussão e baixo
Clarice Panadés ( arte/capa )
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