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1.
Às vezes tenho a voz embargada e as mãos trêmulas Será que sentir fome é isso? Nosso primeiro grito: a fome. Cozinho uma verdura, mas não tenho horta. A qualquer hora, o céu pode desabar sobre nossas cabeças. E onde irá bater os nossos corações? Me seguro em nada para segurar os monstros que habitam em mim. Será que algum dia conseguirei abraça-los? Busco a virtude da raiva no vento que entra pela janela e me acaricia a nuca. Me sinto velha. Tenho, sei lá, algo em torno de trezentos e cinquenta mil anos e já não me lembro de tanta coisa. Estou cansada de ir e vir, mas continuo... E sei que ainda guardo sangue nos olhos. Moro no buraco fundo do mundo, onde a pele já não me serve mais de cobertor. Não sinto mais o vento. Sou o vento. Sopro por sobre as calcificações e meu trabalho hoje é corroer tudo o que é sólido e balançar os cabelos do mar. Já não falo a língua dos humanos e deixei de me importar com a luz ou a escuridão. Apenas sopro. Mas sopro. Deixei de sentir. Não durmo, não luto não discuto política, nem invisto na bolsa de valores. Não bebo. Os gêneros não me importam, nem as cores. Sou ar e ainda respiro
2.
Balbucio palavras bolhas Para aguar a boca Babo Gotas de saliva Gotículas virais invisíveis Pregnâncias no tecido estampado Destapo o último buraco mucoso tapado E reconheço pelos os olhos aqueles Pra quem os covardes bradaram: Vândalos. A hora é sempre boa pra baderna A hora é sempre boa pra mergulhar na agua, na boca E boiar mirando o céu E transar mirando o céu E deslizar no céu A língua A lambida d'oxum A vima que brilha na baba cósmica do beijo da gente
3.
Lá fora o mundo grita por mim Aqui dentro eu grito pelo mundo. Quanto mais gritamos mais roucos ficamos Quanto mais roucos ficamos menos nos escutam Quando menos nos escutam mais nós gritamos Quanto mais nós gritamos mais roucos ficamos Quanto mais roucos gritamos menos nos escutam Quanto menos nos escutam mais de nós gritamos Quanto mais de nós gritamos menos roucos ficamos Quanto menos roucos ficamos mais nós gritamos Quanto mais nós gritamos mais tempo dura o grito, ainda que seja rouco. Um dia perderemos a voz para ganharmos a vez e diremos em silêncio o que tanto gritamos
4.
Dormir não tem sido fácil,                                   nada fácil! Passo horas me revirando,             convidando o sono,             ouvindo a trilha sonora                                da história que eu poderia                          começar a criar              para conseguir  enfim me adormecer... É um pouco a hora da tristeza, resultado talvez do constato, que mais um dia se passa                                e no entanto, ainda não sabemos  o quanto teremos que esperar para que esse momento estranho                                                        acabe. O passar dos dias  não deixa também de me lembrar que a vida também anda passando e que o impasse é inerente                                 a isso mesmo no agora. Minha lágrima parece quente, como se tivesse ficado por um período particular no olho, deve ser pela angústia dilatada                                         no tempo que temos de sobra. Não tenho chorado muito, ou, não tenho chorado o tanto que o estado de espírito atual                                            anseia. Antes do fim do mundo  eu chorei por "mais de ano", todo dia, às vezes muito. Acho que só parei de chorar no carnaval, ou talvez um pouco antes. Devo ter gastado toda lágrima                                          sem por tanto                                         ter deixado de sentir                                         tudo aquilo que me fazia                                         desaguar ainda a pouco. Pode ser a concretude das dores  a ladra discreta do choro... Tenho me comunicado mais                 com as pessoas distantes                              do que me parece recorrente... E no entanto, a distância nunca me pareceu                                                    tão real.. E isso me faz entender do porquê  de evitar o contato constante                                   mesmo de forma inconsciente. Defesa. Necessidade de não tornar fatídica                                                                                    a distância. A dificuldade eterna                         com despedidas... A falta. A saudade. Mas a saudade pode ser matada,                                       pouco ou muito. Mas a falta é um vazio que ficou pra trás,                                       que não pode ser preenchido. É o que perdi                         por não estar presente. Acho que eu tenho é chorado seco,                                                     deve ser isso! E acho que a cabeça anda                                      cheia demais                                                pra se deixar repousar                                                                 facilmente no sono. Acordar não tem sido fácil,                                       nada fácil! Começar um novo dia que será provavelmente um tanto quanto  igual a ontem. Interromper o mundo dos sonhos onde,  vira e mexe  vivo coisas mais interessantes                       do que acordada.... Sair do estado              de ausência de dor no corpo                     e de julgamento da outra dor. Esperar o sol               que só vem esquentar de fato                                                            mais tarde. Desejar sem grandes expectativas                                                           um bom dia. Mas as coisas já perderam muito                                                da graça                                                que eu inventei                                                 que tinham, pra me convencer  em manter uma certa calma aproveitando a idéia  de qualquer alegria. Por trás dos ruídos sonoros                                    próprios ao lugar, tem um silêncio profundo... Não sei bem se ele vem de mim                                   ou do mundo. Observo toda cor do além íris que insiste em enfeitar a flor que nasce na rachadura do concreto. Penso no que a planta resistiu                                        pra aparecer por ali. E não consigo dar nome a sua cor. Não consigo captar                        se a imagem me traz                                                  esperança, desespero ou alívio. Provavelmente tudo junto                                    e necessariamente                                                                 em desordem. Bom dia!
5.
A hora parou de fora... e de fora para dentro mudaram as oportunidades, as necessidades, os convívios , a solidão e a solitude mesmo esta não tão provável no momento... E pras curas, tempo... E para o companheiro, nova distância . Escolhida por lá, como assim é feito praxe. Pros olhares de cá... des-povo-amento mas amplitude em mato. Matos aqueles mesmo! De verdade! Verde, que brota, que tá espalhado , sem depender de gente nenhuma. E é de morro ! De baixada, daqueles que ocupa... As políticas não esperam o tempo. Avançam, mudam de lugar, vem se repaginando tomando conta e espaço até do que não cabe a elas. Partidas também pelos partidos e detentores dos maiores umbigos já divulgados na nação . - "E daí?" ,para o dono da imposição de seu vaidoso querer, banaliza o público. "E daí?”. Atrofiados e rígidos acham coerência numa forçada regência que nem mesmo o impositor acredita. Humanos replicam clamores por cuidados ; outros banalizam . Enquanto isto o mato adentro segue sua rotina na batalha pela sobrevivência de toda uma gama que deriva de si. Sem cobrar. Sem depender diretamente dos tão menores humanos que com as suas mentes se acham altos e promissores . Da perspectiva do verde... quem pede impulso ou aparência? Segue ... sem a necessidade de se mostrar maior .. Segue.. somente sendo, ...até que uma hora os evoluídos do macaco, percebam que sempre foram menores, sem serem diminuídos por isto. E lá no mato, o tempo continua ... Segue, né? Segue .. Louvada seja esta consciência continua...
6.
21 de Abril As ruas desertas O sol rasgava o horizonte O frescor O dia me persegue num jogo de esconde Ele me alcançar por trás das casas, postes, muros altos Eu vou, veloz em minha bicicleta Eu ia O chão a correr O pássaro voa da ponta da arvore até o monte de lixo O canto da rua O canto da mulher que come lixo O conto dos freios da minha roda Suspende o ar Paro de frente a um cavalo Preto de patas brancas No meio da rua, banhado de sol Olhar triste Eu e ele Somos íntimos dessa dor Eu te reconheço animal, em mim Sigo, sigo porque a de se viver Sobrevoam os urubus A névoa sobre a montanha O rio fétido Eu te reconheço rio Você corre, eu corro em ti Sigo, sigo porque a de se nascer Pedalo sem as mãos Me equilibro entre cacos e buracos Sirenes, vermelho, homens Homens e armas O corpo estendido Um corpo apagado Um homem Ao lado Sua morte Não avia mais o medo em seus olhos Ele mirava o mesmo sol nascente que eu Sigo porque a de se morrer Sigo porque é só O caminho é só Subo até o mais alto da montanha O sol me segue por entre as ruas Os carros A cidade a dormir O fétido somos nós A negar a morte Somos nós a negar a vida Olho a montanha de longe Ela me olha Eu penso raiz Cheiro terra Cheiro tudo que pulsa..pulsa..pulsa ... pulsa Ser outros pulsa Não ter nome pulsa Ser o encontro Ser o vento que lambe a poeira do chão A gente nasce pra morrer A gente morre pra nascer
7.
Nao me de a mão Nao se aprochegue Nao respire perto de mim Eu posso te infectar Com o meu olhar Refugiado a morte Africa do Norte Sobrevivente as correntes Atlantico do sul Aldeia inteira adoeceu Quando voce chegou Palmos da terra Pra semente em decomposicao Meu pouso eh breve Eh passagem Vou seguir viagem Proutro plano Onde me AGUArdam Meus ancestrais Falei demais Tenho de ir Nao me aperte a mao Nem olhe para tras...
8.
Vinheta com áudios gravados pelo o celular, entre Lisboa, Aielli e Berlin em 2019.

about

“Até”, é um álbum caseiro e independente do músico valadarense Juninho Ibituruna, realizado em colaboração com parceiros de vários lugares do mundo.

Criado por Juninho entre março e junho, num “home-estúdio” improvisado na cidade de Napoli, na Itália, os “poemas sonoros” contam com a colaboração musical do português André Xina e do italiano Francesco Valente (hospedados durante a pandemia no mesmo apartamento que Ibituruna), além dos mineiros Pedro Ratton, Julio Mengueles e do paulista Maurício Caruso, radicado em Santiago de Compostela.
Os escritos e as vozes são de pessoas “espalhadas” pelo mundo, com quem o músico se relaciona afetivamente através da arte.  Falas que soam como poemas, cartas, prosas ou reflexões de quem está próximo, mesmo à distância. Sara Cabral, Dandara Modesto, Liz Braga, Brisa Marques, Rita Podestá, Rafael Camisassa, Edinho Ramos e Clarice Panadés, também criadora da capa e todas as artes do álbum

credits

released March 7, 2020

Vozes e textos :

Sara Cabral, Dandara Modesto, Liz Braga, Brisa Marques, Rita Podestá, Rafael Camisassa, Edinho Ramos e Clarice Panadés.

Participações :
Francesco Valente ( baixo elétrico nas faixas "Segue" "Babo" e "21 de Abril" )
Pedro Ratton ( percussões na faixa "Agora" )
Julio Mengueles ( baixo na faixa "Retirantes" )

Mixagem:
André Xina

Masterização:
Maurício Caruso

Criação e produção:
Juninho Ibituruna

Arte :
Clarice Panadés

Digitalização:
Rafael Camisassa


Apoio:
PalomArt Network
Fábrica Braço de Prata

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Juninho Ibituruna is a drummer and music producer.

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